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Tratar ou não tratar?

By 20/12/2018 outubro 12th, 2020 Artigos

Frequentemente vejo comentários como “Ah! essa foto é photoshop!” ou “com Photoshop até eu!”. Acontece não só nas minhas fotos, vejo também acontecer frequentemente com outros fotógrafos que publicam seus trabalhos nas mídias sociais. É algo que precisamos considerar quando expomos nosso trabalho ao público. Mais do que isso, tratar ou não tratar uma imagem é uma questão que devemos fazer a nós mesmos. Devo tratar essa foto? É anti-ético apresentar essa foto com tratamento? Qual o limite do tratamento? Até onde é aceitável? Vou abordar aqui algumas questões que considero importantes entrarem nesse assunto. Mas já adianto que sim, sou a favor do tratamento.

Realismo

O primeiro ponto é: uma foto deve retratar a realidade? Eu encaro a fotografia como mais uma das artes gráficas. Como o cinema, a pintura, o design gráfico, a ilustração. Tais formatos não são cobrados de retratar a realidade, porque a fotografia deveria? Não deve. Veja só, simplesmente ao fazer um enquadramento, já estamos escolhendo o que mostrar e o que não mostrar. Apontar a câmera em uma direção específica já é por si só uma quebra do retrato fiel da realidade. A foto é bidimensional, não tem cheiro, não tem gosto, não tem som. No máximo, a foto pode ser impressa em um papel. É apenas uma representação, “meramente ilustrativa”.

Olho Vs. Câmera

Nossos olhos e câmeras enxergam o mundo de maneiras diferentes, em diversos aspectos. Algumas vezes usamos essas diferenças à nosso favor, criando uma imagem que só nossa câmera é capaz de ver. Mas, na maioria das vezes, queremos que nossa câmera veja o que nossos olhos estão vendo. Nesses casos, a edição da fotografia tem objetivo de trazer de volta aquilo que nossos olhos viam e a câmera não pôde capturar. Dessa maneira, a foto editada representa melhor a realidade do que a foto nua e crua, o contrário do que normalmente se pensa.

Fotografando em RAW

Bem, isso pode ser revelador para alguns. Mas toda câmera digital possui um “Photoshop” interno. Acontece que o sensor captura a luz em forma de sinal elétrico, e isso é interpretado pelo software da câmera. Este, por sua vez, vai traduzir os sinais elétricos em cores específicas que então geram os pixels da foto. O software traduz esses dados da maneira como seu fabricante o programou para traduzir. Assim, a câmera faz uma interpretação própria da foto. Isso pode alterar a saturação, contraste, nitidez e etc . Eis o “photoshop” interno. Quando fotografamos em JPG, ficamos refém à essa interpretação. Porém, ao fotografar em RAW, o arquivo mantém todos os dados originais da captura, e nos permite então fazer o tratamento da imagem em um software de nossa escolha. Assim ganhamos a liberdade de traduzir e interpretar esses dados à nossa maneira.

Photoshop antigamente

Pouca gente sabe, mas também existe tratamento na fotografia de filme, sem utilizar nenhum recurso digital. No processo de revelação das fotos, é possível fazer correções de exposição, tratamento de cores, escurecer e clarear áreas específicas. Essas duas últimas, por exemplo, deram origem aos comandos de “burn” e “dodge” que hoje temos no photoshop. As novas tecnologias facilitaram, poupando tempo e possibilitando muito mais pessoas terem acesso à esses recursos. Ainda bem! Mas para quem pensava que as fotos antigas são mais verdadeiras pois ainda não existia Photoshop, agora sabem que não é bem assim.

2018 © Hugo Chinaglia

Filtros

Os filtros digitais de instagram (e outros apps) são muito populares. Mas nós também temos os filtros físicos, que colocamos nas lentes de nossas câmeras. Na verdade, são acessórios amplamente utilizados pelos fotógrafos, antigamente e também atualmente [leia aqui sobre o filtro polarizador]. Funcionam como óculos escuros, alterando cores, aumentando contraste, tirando reflexos, ou mesmo criando efeitos especiais. Se questionamos edição de imagem digital, por que não questionaríamos também o uso de tais filtros? Ou mesmo a construção das nossas próprias câmeras e lentes, que certamente trazem distorções ao que nosso olho vê e interpreta como real.

Tone Mapping Vs. Manipulação Digital

Ao meu ver, há basicamente dois tipos de edição em fotografias. Tone Mapping e Manipulação. O primeiro diz respeito à editar as cores da fotografia, alterando contraste, claros e escuros, equilíbrio de branco, nitidez, etc… Já na Manipulação, significa que temos edições mais pesadas, como por exemplo aumentar o tamanho da lua, retirar uma árvore, emagrecer uma pessoa. Faço Tone Mapping e evito Manipulação. Não que eu seja contra, isso seria limitar nossas ferramentas criativas. Porém, nesses casos é preciso ter mais cuidado, pois acredito que chega na fronteira do que é ser ético ou não. Algumas fotos são claramente manipuladas e nem precisam mencionar isso. Mas outras podem passar como reais, e, dependendo do caso, acredito que a manipulação deveria ser informada. Não é legal ganhar os méritos por fotografar uma lua que nunca existiu, por exemplo. [Leia aqui sobre tratar ou não tratar uma foto]

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